Deputado paranaense quer reeditar o AI-5 nas escolas, oficializar a mordaça e a perseguição política a estudantes
Esse merece a tag #eu_tenho_medo_do_deputado_Marcelo_Rangel !!!.
Para
tudo! Se alguém duvidava da violenta conversão à extrema-direita –
moralista, preconceituosa e autoritária – no seio da sociedade
paranaense, a base de apoio ao governador Beto Richa (PSDB) resolveu se
superar e deixar bem claro essas intenções. O que vem por aí, coloca no
bolso o AIFU – Ação Integrada de Fiscalização Urbana -, que fecha bares e intimida manifestações artístico-culturais na Capital, as ações reacionárias e homofóbicas da bancada evangélica, em nome de tudo, menos dos preceitos cristãos, o raio-X das lideranças e forças políticas nos municípios, o atropelamento da democracia na composição dos conselhos gestores de políticas públicas, o cerceamento à liberdade de informação e a repressão e censura a blogueiros.
O deputado do “asséptico” PPS de Ponta Grossa, Marcelo Rangel, cupincha de Beto Richa, colocou em tramitação na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) o projeto de lei nº 387/2011, que institui o programa “Ficha Limpa” nas escolas do estado.
Como é que é?! Por trás
de um nome que caiu no gosto da população e serviu para “caçar”
(literalmente) os candidatos a cargos públicos que legislam ou comandam a
execução de bens, recursos e serviços públicos, o projeto visa
instituir de vez a mordaça, a perseguição política, a criminalização de
lideranças e reeditar o Ato Institucional número 5 (AI-5) da ditadura militar para o movimento estudantil. Ele prega o “impedimento, para compor as chapas a concorrerem aos Grêmios Estudantis, de alunos que tenham contra si qualquer tipo de registro de advertência por ato de indisciplina ou desordem da instituição de ensino, nos últimos 2 (dois) anos anteriores à data do registro da chapa”. E vai além: “entende-se como ato de indisciplina ou desordem (…), qualquer advertência, suspensão, repreensão ou documento expedido
por um colegiado de professores e/ou de autoridades escolares, visando a
reprimenda ao aluno que provocou desordem ou agiu com indisciplina”. Tal impedimento estende-se a TODOS OS CARGOS da chapa a ser estruturada e não só ao de presidente do Grêmio.
Serão atingidas por essa barbaridade
todas as instituições de ensino que possuam representação estudantil e,
onde isso não aconteça, o projeto “ideia de jerico” sugere que a direção
dessas escolas incentive a prática de representação. Na ditadura,
que parece estar viva apenas na memória de velhos combatentes como nós,
escaldados de autoritarismos, os centros acadêmicos (CA’s) das
universidades foram fechados, direções eleitas foram dissolvidas e se
manteve apenas representações com dirigentes biônicos, que eram meros
interventores do regime totalitário nas universidades. Graças à
“radicalização”, à “crítica”, à “indisciplina” ou à “desordem” dos
estudantes, que motivou as maiores atrocidades, torturas e perseguições políticas por parte da ditadura militar, a democracia foi aos poucos restituída
no Brasil e os movimentos sociais e a população ganharam novamente a
voz e o olhar atento sobre os destinos da Nação. No mundo todo, o ano de 1968 foi marcado pelos grandes protestos estudantis em defesa das liberdades individuais e políticas.
Por fim, a redenção…
Outra pérola da proposição de Rangel está no artigo 6º, que doutrina o “bom comportamento” (para quem, cara pálida?): “Como
o Programa visa incentivar a boa conduta na liderança entre os jovens,
nos casos em que o aluno infrator receber punição sem registro ou
redimir-se da punição registrada através de qualquer ato, negociado com
autoridade escolar, este restará isento do impedimento desta Lei”.
Na justificativa de tal proposta, o autor alega que quer incentivar uma
espécie de auxílio à formação dos futuros representantes do povo e diz –
sabe-se lá se inspirado no “Mein Kampf” ou nos preceitos da Santa Inquisição
– que esses, desde cedo, “deverão saber o significado e a importância
de uma boa conduta para a moralidade das representações”. E conclui,
citando o exemplo do Colégio La Salle Cannoas, do Rio Grande do Sul, que
teria implantado o “ficha limpa” no Grêmio e hoje a política estudantil
goza de respeito e aprovação por parte da diretora do Colégio. Ah, tá!
Não
se sabe também se o deputado Rangel visa aparecer, ficar famoso, criar
uma polêmica que o conduza ao palco do programa CQC, mas certamente ele
conseguiu colocar uma melancia na cabeça e se superou no espetáculo. No
mínimo, está pedindo um agito de insatisfação e uma mobilização de
repúdio que o movimento caça-fantasmas da Assembleia Legislativa, os
caras-pintadas e as passeatas pelo passe livre jamais sonharam. O projeto de lei nº 387/2011,
que merece ser rechaçado com um sonoro não, está tramitando na Alep
desde o dia 9 de maio deste ano. Desde essa data também ele aguarda
parecer da Comissão de Constituição e Justiça – CCJ – da Casa. Será que
estão faltando demandas e problemas enfrentados pela população para
ocupar o tempo e a mente criativa do deputado? Não. É o tsunami
moralizador e reacionário mostrando suas garras e com o poder de uma
rádio popular nas mãos. É pra acabar!
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