Todas as cores de Agenor


Museu de Arte de Londrina expõe até o dia 13 individual com novas obras de Agenor Evangelista



Fábio Luporini do JL
A inspiração do artista, na maioria das vezes, traz à realidade experiências vivenciadas por ele. Com o artista plástico Agenor Evangelista não é diferente. Aquilo que esteve e continua a estar ao redor dele é tema dos 20 desenhos em tinta acrílica sobre papel, expostos no Museu de Arte de Londrina. A exposição Arte e musicalidade segue até o dia 13 de novembro.
A infância vivida na periferia e o convívio com os amigos afrodescendentes emprestam aos desenhos a cara do artista, engajado no movimento negro. “É uma luta. Eu vim de periferia, morando em cortiço, ao lado de favela. Não dá para fugir da realidade”, afirma. Em todos os desenhos, a temática se mistura aos elementos musicais, com personagens negros portando instrumentos diversos, como atabaque, pandeiro, violoncelo, entre outros.

Vida boêmia
Nas telas, experiências ainda da convivência com amigos músicos. O cenário: a vida boêmia, apreciada por Evangelista. “Eu sou um cara boêmio. Vivo na boemia. Meus quadros sempre têm a questão de tocarem instrumentos, mas com um copo na mão, uma garrafa de bebida, mulheres em bares”, comenta. Todos os sentimentos, visões de mundo e perspectivas pintados em desenhos influenciados por artistas consagrados como Di Cavalcanti e Renoir. Há 25 anos Evangelista retrata o cotidiano afrodescentendete.

Convite
A exposição surgiu a partir de um convite para que Evangelista produzisse alguns desenhos com o objetivo de ilustrar um calendário temático afrodescendente, que deve ser lançado no ano que vem. Três desenhos do calendário integram o projeto. E, se a voz do povo é a voz de Deus, o artista atendeu ao pedido. “Pediram para eu fazer uma série [de desenhos]. E eu fiz”, conta.

Entrevista - Agenor Evangelista, pintor

“A gente não pode se esquecer de onde a gente veio”

JL – Qual o tema das suas obras?
Agenor Evangelista – Arte e musicalidade. São afrodescendentes da periferia tocando os mais variados tipos de instrumentos. São homens e mulheres tocando pandeiro, atabaque, bangu, violocenlo, trompete. Instrumentos de metal e sopro com a temática da periferia porque o ano que vem é o ano afrodescendente. E vamos lançar calendário com quatro artistas, três obras para cada.

Como surgiu a ideia desses desenhos?
Quando a Universidade Estadual de Londrina (UEL) me chamou para o lançamento do calendário do ano afro, com datas específicas sobre o tema, eles pediram um trabalho. Como eu convivo com muitos músicos, com o pessoal de terreiro, candomblé e umbanda, meus amigos de banda de rock – a turma até me confunde com músico –, o pessoal pediu para eu fazer desenhos, com pessoas com instrumentos na mão. Pediram para eu fazer uma série [de desenhos]. E eu fiz.

Em quem você se inspira?
Eu tenho uma influência de Di Cavalcanti, do expressionismo, das formas dele. E também no impressionismo, como Renoir.

Você observa e pinta o pessoal da comunidade?

Eu vivo nesse meio. Estou há 30 anos no movimento negro, sempre na militância. De repente, fiquei nesse tremelique fanático pelo negro. Dificilmente tem uma branca nos meus quadros. Se tiver, ela tem um beiço de preto (risos). Sem preconceito, porque eu gosto das branquinhas, das japonesas...

É uma identificação...

É uma luta. Eu vim de periferia, morando em cortiço, ao lado de favela. Não dá para fugir da realidade. Mesmo virando artista, tendo passado pela UEL em arquitetura, a gente não pode se esquecer de onde a gente veio.

E as obras têm esse pouco de você, da sua história?
Tem tudo de mim. Eu sou um cara boêmio. Vivo na boemia. Meus quadros sempre têm a questão de tocarem instrumentos, mas com um copo na mão, uma garrafa de bebida, mulheres em bares - juntas ou solitárias.

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