Sexo, drogas e redes sociais no cinema: a história por trás do Facebook



Clayton Melo




Em Desejo de Status, o filósofo Alain de Botton analisa, como o título de sua obra sugere, as raízes do desejo de status na sociedade contemporânea.




Tenta identificar as motivações para o homem moderno buscar a todo custo um valor, o reconhecimento, a aceitação pelos olhos dos outros. Por que essa angústia? Como ela se manifesta? O que indica a respeito de nossa natureza?








O ator Jesse Eisenberg interpreta Mark Zuckerberg em filme
A lembrança desse livro – de leitura deliciosa e reveladora – me veio à mente enquanto assistia na quinta-feira à noite (4/11) ao filme A Rede Social (The Social Network), que retrata a história da criação do Facebook.




Com lançamento marcado para 3/12 no Brasil, o longa-metragem dirigido por David Fincher ( Seven e Clube da Luta) e roteirizado por Aaron Sorkin(The West Wing) teve a honra de ser exibido do encerramento da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A projeção foi feita ao ar livre, no imenso gramado da parte dos fundos da Cinemateca, no bairro da Vila Mariana, em São Paulo.







Sede de sexo




Fiel à essência do livro que o inspirou (Bilionários por acaso, de Ben Mezrich, Editora Intrínseca), o filme mostra que Mark Zuckerberg, avançando a partir da ideia de um projeto que estava sendo desenvolvido pelos irmãos Winklevoss – que o contrataram para a empreitada-, programou sorrateiramente uma rede social em Harvard que tinha como objetivo maior, no final das contas, somente uma coisa: arranjar mulher. Ou em português bem claro: descolar umas moçoilas para boas noitadas de sexo.








Jesse Eisenberg convence no papel de um enigmático e genial programador chamado Mark Zuckerberg
A sacada do “nerd de cabelo enroladinho”, como diz Mezrich no livro, foi inserir funcionalidades em seu site que permitiam detalhar interesses e gostos. “Eis a genialidade daquilo, a novidade que iria fazer toda a diferença. Qual é seu estado civil? Quais são seus interesses? Eram os itens do currículo que constituíam o coração da experiência universitária”, escreve Mezrich.




“O que moveria essa rede social (Facebook) seria a mesma coisa que move a vida social na universidade – sexo. Mesmo em Harvard, a escola mais exclusiva do mundo, tudo girava em torno de sexo”, escreve.




Castas universitárias, cocaína e garotas




E, em Harvard, quem era aceito nos mais prestigiados clubes da universidade – para poucos e seletos, numa espécie das castas universitárias – ficava com as garotas mais gatas.




Zuckerberg e Eduardo Saverin, o brasileiro que financiou o Facebook no começo do projeto e depois foi passado para trás – não participavam de clube nenhum. Isso quer dizer que não pegavam mulher nenhuma.




Sobre isso, vale um parêntesis. À certa altura no filme, há uma festa de comemoração pelo sucesso do Facebook promovida por Sean Parker, fundador do Napster e que depois se incorporou à empresa. A comemoração contou com funcionários do site, entre as quais estagiárias menores de idade – Zuckerberg não estava presente.








Justin Timberlake (à direita) faz Sean Parker, um dos criadores do Napster e que se aproxima de Zuckerberg (Eisenberg)
A cocaína rola solta até que a polícia baixa por lá. De um modo peculiar, o Facebook passou a se constituir um clube em si, a ter o seu próprio mundo.




Anseios reais, mundo virtual




Fincher retrata de modo eficiente como esse clima – o desejo de ser aceito pelos clubes e, assim, pegar mulher – está na origem do Facebook. E demonstra também como, em sua escalada para fazer o site vingar, Zuckerberg passa por cima de tudo – inclusive daquele que era seu único amigo próximo em Harvard, o brasileiro Saverin.




E aqui vem outro ponto positivo para Fincher: embora toda a divulgação em torno do filme trate Zuckerberg como vilão ( algo que de fato se nota no longa), o diretor foge do estereótipo de apresentá-lo como um vilão de face única, aquele que é só malvado, só inescrupuloso.




Personagem amoral e ambíguo




Antes, criou um personagem complexo e ambíguo, cujas motivações e sentimentos se escondem por trás da carapaça do nerd de poucas palavras. Quem ele é de fato, o que sente na intimidade, o que pensa?




Ao problematizá-lo, Fincher sugere, a meu ver, que estamos diante de um personagem que tem no temor de ser rejeitado a motivação para suas atitudes – a principal delas a criação do Facebook.








A atriz Rooney Mara faz Erica Albright, a namorada que dá o fora em Zuckerberg
Um sujeito que busca o status ( e aqui está a relação com Botton e seu Desejo de Status) porque quer ser amado; alguém que emprega seu talento de hacker para não ficar solitário, para ser notado, para ser desejado.




O final do filme (que é ótimo e obviamente não vou contar) deixa isso muito claro.




Mas, e faço questão de ressaltar esse ponto, não vejo no filme a tentativa de absolver Zuckerberg de possíveis trapaças ( e nem eu o estou fazendo aqui). Pelo contrário: o fundador do Facebook não sai bem na foto.












O personagem é polêmico e complexo, e assim é retratado no filme. Fincher prefere antes lançar o olhar para as motivações do ser humano, para os anseios mais secretos.




É assim que o livro de Mezrich também trata Mark Zuckerberg, o jovem que reescreveu a história das redes sociais no mundo.




E nós?




E, antes do ponto final no post, uma questão para refletir: o que nos leva – digo em última instância, vejam bem – às redes sociais, a compartilhar o que fazemos e pensamos em sites como o Facebook e o Twitter, entre outros?




Não seria também, no íntimo, o desejo de que sejamos amados?


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